Introdução à História e colapso da Civilização
A sociedade moderna está repleta de contradições, sob a forma de paradoxos e de omissões no atendimento das necessidades das pessoas. Comecemos pelos paradoxos.
Primeiro paradoxo:
A união das pessoas é uma necessidade. É sobre ela que a civilização foi construída. Mas essa união tem sido cada vez mais precária nos tempos modernos.
Foi em prol da segurança que as pessoas se reuniram em grupos familiares, em tribos, em nações e na criação da República. Foram essas diversas formas de união que garantiram a sobrevivência da humanidade. Por que então o paradoxo? As pessoas se unem por afeto ou interesse. Quando a afetividade e o interesse coletivo são negligenciados essa união ocorre apenas por interesse pessoal. É o que acontece com a sociedade moderna. Ao dilapidar a ética e os valores morais e sentimentais, a união das pessoas torna-se frágil e instável, pronta a se romper. Impera o egoísmo que leva à desconfiança, à corrupção, à deterioração da sociedade e ao colapso da civilização.
Segundo paradoxo:
Tudo que compõe o universo é energia; entretanto a humanidade está em permanentes conflitos e guerras por sua causa. A energia se manifesta em várias formas e condições, luz, calor, ondas eletromagnéticas, matéria, mas é una. Tudo é energia. Ela é tão abundante quanto é grande o universo. Assim, fazer guerra por ela é um paradoxo.
Dizer que há falta de energia é falsidade ou ignorância. O que há são seu mau uso e seu desperdício, ambos pela visão mesquinha do homem. Fala-se muito em produzir energia. Essa expressão é uma impropriedade, pois a energia é o fundamento de todo o mundo material. Ela não é criada, apenas transformada.
Terceiro paradoxo:
Há na natureza uma profusão de riquezas que atendem a todas as necessidades básicas do homem. No entanto as carências de toda natureza e a fome atingem um bilhão de seres humanos, o que é um paradoxo.
Ao homem foi concedida a prerrogativa de criar instrumentos e aumentar a produção natural através do seu trabalho. Assim fazendo, ele incorpora valor àquilo que produz. Como as riquezas da natureza, as criadas pelo homem deveriam ser dirigidas para sua sobrevivência e engrandecimento. Mas não é assim. A apropriação da riqueza por poucas pessoas não gerou apenas o progresso e o conhecimento, mas também relações de dependência e de conflitos que estagnaram um grande contingente humano na miséria e na ignorância.
As disputas pela riqueza, que fazem parte do cotidiano da humanidade, geram guerras e situações de submissão que resultam em sofrimento e infelicidade. A corrida pela hegemonia econômica e bélica trouxe a destruição de riquezas naturais, a miséria e o genocídio. A dependência do ser humano imobiliza sua criatividade e a própria produção social. Essas disputas são resultado de um comportamento humano egoísta, que transforma a abundância em miséria e sofrimento.
Quarto paradoxo:
As leis da natureza são para todos. Qualquer infração a elas, de onde quer que venha, terá a resposta adequada e predeterminada. As leis dos homens já não são assim. Só excepcionalmente elas se aplicam com equidade. Esse é outro paradoxo.
Nossas leis são produzidas pelo grupo hegemônico da sociedade para a defesa de seus interesses e o constrangimento dos outros, os subalternos. Além disso, o sistema de poder cria instrumentos para defender os membros privilegiados das castas sociais do rigor da lei, quais sejam, a manipulação do poder, a pressão política e o uso da força. Os meios para isso são o dinheiro e o poder do Estado, ambos com grande potencial de coação.
Quando não se consegue a impunidade dos membros das castas por meios institucionais, usam-se outros métodos, como a corrupção, a chantagem e o uso privado da força. Essa desigualdade é a negação do princípio republicano de que todos são iguais perante a Lei, além de permitir a manipulação do poder, o que faz da democracia uma farsa. As representações políticas refletem o poder real dos grupos sociais, não da maioria da população, como se divulga. Isso compromete outro princípio republicano, a soberania da vontade dos cidadãos. O poder nas mãos de uns poucos leva à concentração de renda e aumenta os conflitos sociais, tornando-se obstáculo ao desenvolvimento humano.
É preciso ter sempre em mente que só há democracia verdadeira quando imperam os princípios republicanos, a soberania popular, o respeito às leis, a igualdade de oportunidade, a liberdade, enfim, a cidadania plena para todos. Não há democracia verdadeira sem República, não há República sem soberania nacional.
Quinto paradoxo:
O modo de vida consumista praticado nos países mais ricos e as tecnologias destrutivas que o possibilitam estão em contradição com a capacidade da natureza de recuperar-se. Sua expansão para todos levaria ao colapso da natureza, outro paradoxo.
Há falsidade quando as nações mais capitalizadas querem impor aos outros povos sua cultura, seus hábitos e costumes, sua arte, sua língua, sem que haja possibilidade de oferecer-lhes o padrão de vida que suas populações usufruem. Como a cultura de um povo é, sobretudo, sua adequação às condições concretas de sua existência, essa exportação cultural é uma farsa, um engodo. O fato a ressaltar é que as nações do consumismo não podem ser modelo para os povos, porque sua cópia representaria o colapso da natureza. Visto por esse ângulo, só uma nova civilização preservará a humanidade.
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Somam-se a esses paradoxos uma série de omissões, relativas a questões que exigem soluções imediatas, mas que são proteladas ou tratadas com descaso. Isso mostra que estamos atravessando um período de grandes contradições na sociedade que se mostra incapaz de resolver os problemas que afligem as pessoas. Esses problemas são:
O mau uso dos recursos naturais, que produz poluição e escassez. O descaso com as pessoas, que mostra que nossa sociedade foi incapaz de superar o elitismo e a prática escravista do colonialismo. A violência, que a mídia banaliza e expõe de forma irresponsável em enlatados de mau gosto, postura que revela uma aberração: preparar as pessoas para aceitar as guerras e sua desumanidade. Ela corrói a sociedade e as instituições e está contribuindo para o colapso da própria civilização.
Nossa sociedade ainda trata as diferenças com discriminação. Ela ignora que a diversidade biológica é necessária à preservação da espécie e a cultural é um recurso para superar o colapso das civilizações. Quando se discrimina, vê-se uma qualidade como defeito, um trunfo como uma desvantagem. Os colonialistas agiam dessa maneira para desqualificar os povos que colonizavam, ou escravizavam. A discriminação é um instrumento das nações mais ricas na sua investida para submeter governos, com o objetivo de impor suas políticas que visam sempre espoliar os povos e as pessoas mais pobres.
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Para que tudo isso possa ocorrer, há um processo em curso de alienação da população, preparando-a para aceitar todos esses paradoxos e as omissões em relação à satisfação de suas necessidades humanas. A alienação coroa as contradições da sociedade e acentua o descalabro que se torna rotina na sociedade e nos governos que a representam. Ela tem como finalidade maior impedir que a população reaja às políticas impatrióticas das elites dominantes e às intervenções externas que elas apoiam. Tudo isso leva o país ao marasmo, à perda de sua identidade, de sua autonomia, tornando-o instrumento e vítima da dominação externa. Nesse quadro, não se pode esperar uma superação da condição de subordinação em que nos encontramos.
Dentre essas políticas danosas estão, a depredação da natureza, fonte de lucros para seus exploradores, e o esquecimento dos valores que norteiam toda coletividade para seu desenvolvimento e preservação. Mas a natureza não é passível de alienação. Suas leis são imutáveis e implacáveis. Suas respostas são contundentes, o que aumenta o risco das pessoas e da própria civilização, pois as pessoas se esquecem rapidamente dos desastres naturais. Mas haverá um momento em que a natureza dará seu basta a tudo isso.
Essas contradições são um desafio para todos nós. Foram elas que balizaram as pesquisas e as interpretações dos fatos históricos aqui relatados. Esse cuidado visou buscar na história informações e inspirações para a análise dos acontecimentos atuais e a tomada de consciência dos problemas que o homem moderno enfrenta. Entretanto, cada leitor pode ter uma visão diferente da do autor. Isso deve levá-lo às suas próprias pesquisas e interpretações. Além disso, a história é dinâmica. Ela está sempre em marcha. Cabe, portanto, a todos buscar compreender as causas e efeitos que movimentam a história, e tentar evitar novos impasses. Isso se faz através da superação de nossos pensamentos e nossas práticas sociais. Façamos isso!