Homenagem a Mário Victor e seu livro “A Batalha do Petróleo Brasileiro” por Arnaldo Mourthé
A vida é construída no meio de contradições, que estão em tudo que existe no nosso mundo material. Sócrates e Platão já haviam descoberto isso.
Ontem assistimos a um grande circo na Barra da Tijuca, em cenário de guerra. Enquanto isso, aquartelados em um hotel, bufões da república da mentira e da corrupção encenavam uma farsa apelidada Leilão do Pré-sal, Campo de Libra. No teatro de operações não faltaram forças armadas, navios de guerra e todas as polícias, não contra um inimigo, mas contra os cidadãos que discordam da política elitista e entreguista do governo. Um ato falho dos promotores da maior doação que um país dito independente já fizera em toda a história mundial a forças estrangeiras em condições de paz.
Em contrapartida a essa vergonhosa capitulação do governo brasileiro diante do capital financeiro internacional, transcrevemos abaixo o texto final do livro do jornalista Mário Victor, A batalha do petróleo brasileiro, Editora Civilização Brasileira, 1970. (AM)
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No dia 3 de outubro, o Presidente Getúlio Vargas sancionava o projeto da Petrobrás, transformando-se na atual Lei nº 2004. Era assinado também pelos Ministros Tancredo Neves, Renato Guilhobel, Cyro do Espírito Santo Cardoso, Vicente Rao, Oswaldo Aranha, José Américo, João Cleofas, Antônio Balbino, João Goulart e Nero Moura.
Ao sancionar sem vetos a Lei 2004, que instituía o monopólio estatal, ao contrário do projeto do Executivo, o Presidente Getúlio Vargas prestigiava o Parlamento e as lideranças partidárias e atendia, assim, às justas reivindicações do provo brasileiro.
Naquela data o Brasil se engrandeceu perante os demais países amantes da liberdade e do progresso. Em nome de um nacionalismo autêntico, que se revelava pela afirmação das suas qualidade culturais, políticas e econômicas, o Brasil saía vitorioso daquela luta contra os trustes, como uma advertência ao imperialismo econômico de nações poderosas, ajustadas em seus objetivos com esses mesmos trustes.
Levantando uma bandeira que reconhecia a interdependência entre os povos, mas que se recusava a aceitar a alienação da soberania do País, trabalhadores, estudantes, políticos, intelectuais e militares impunham a maior derrota aos trustes internacionais do petróleo, em toda a sua existência. Uma derrota que se inscreveria nas páginas da crônica do petróleo como um exemplo aos povos latino-americanos e afro-asiáticos, na luta pela sua independência.
Em 3 de outubro de 1953, o povo brasileiro conquistava o respeito e a admiração dos povos civilizados, porque a civilização destes mesmos povos se edificaram também sob a defesa e a vigilância dos seus interesses. Encerrava-se, assim, a maior campanha cívica da nossa História, como uma glória para as gerações presentes e um exemplo para as gerações futuras!
Tijuca, maio de 1966 – janeiro de 1969