Alerta aos linguistas e aos dicionaristas
Arnaldo Mourthé
Todos nós concordamos que as palavras são um instrumento de comunicação. Para que o dito seja entendido por quem houve ou lê as palavras, seus significados precisam ser claros. Pelos menos no seu senso comum. Se há dúvidas quanto à correção da comunicação, é aconselhável a consulta a um dicionário.
Certamente as palavras podem conter uma variedade de significados, mas que são dirimidos pelo contexto no qual foram mencionadas. Essa variedade tem origem em um fenômeno chamado semântica, que estuda as razões objetivas da mudança de seus significados, ocorridos ao longo de formação da linguagem em várias etapas de desenvolvimento da sociedade e do nível cultural em que elas se deram, em geral sem qualquer pretensão. Mas, em certas circunstâncias, com o objetivo deliberado de confundir. O fato da variedade de significados não impede, entretanto, seu bom uso, quando o texto é escrito ou lido por pessoas competentes para tal. Conhecer o significado das palavras é fundamental na comunicação e na criação do que quer que seja, quando se trabalha com seriedade e competência. É para isso que temos os linguistas e os dicionaristas, tão necessários à nossa orientação.
A história da humanidade é entremeada de inverdades que deformam sua compreensão, mesmo para os mais competentes historiadores e analistas. O papel delas é desinformar-nos dos fatos que realmente constroem a história, que são as contradições de interesses dentro da sociedade. Por isso ela é escrita como um sequencia de protagonismos de indivíduos ou grupos sociais, ou mesmo de nações. Mas a realidade é muito mais complexa, pois ela contém interesses ocultos, que o são porque não seriam aceitos pela população dócil que sustenta o poder de poucos, como algo normal.
Essa sustentação só é possível porque está na própria cultura de submissão da sociedade e suas instituições, inclusive a escola, além de muitas outras de variada natureza, especialmente formadas e mantidas por interesses escusos. Esses são tão perversos que não podem ser de conhecimento da população, que se revoltaria ao conhecer a verdade. O linguista americano Neon Chomsky gravou um vídeo que pode ser acessado pelo You Tube sobre essa questão. Ele é intitulado “As 10 estratégias de manutenção das massas”. Nele estão contidas as informações fundamentais para nossa compreensão do uso da desinformação que mantém situações que estão levando a humanidade à catástrofe, que pode ser tão grande quanto o suicídio coletivo. O poder é como é porque assim nós o aceitamos, apesar de nos custar tão caro, em liberdade, em segurança, em qualidade de vida e em tudo o mais que nos falta, mas que está à altura de nossas mãos, como os inumeráveis frutos na Natureza.
Estamos assistindo, hoje no Brasil, a apoteose da crise monumental que afeta a humanidade. As razões são profundas, o que torna necessário certo esforço para sua compreensão. Mas há no Brasil algo que nos desfavorece especialmente, que é o uso abusivo, disseminado e mesmo histérico da semântica para nossa desinformação, e mais que isso. Listamos alguns exemplos abaixo, de questões por mim testemunhadas sobre esse fenômeno que parece mais uma espécie de loucura disseminada entre pessoas de má índole ou inocentes, ignorantes, melhor dizendo, difundindo opiniões e repetindo falsidades pela rede social capazes de horrorizar um homem de formação cultural e moral comum vivendo no mundo moderno. Vamos aos fatos.
Partamos da nossa existência que é algo que fala por si mesma, um postulado. Sem ela nem poderíamos estar aqui nos ocupando de tempo tão áspero. Pois nossa própria existência corre risco, como pessoa, como comunidade, como Nação. Nossa existência não o é por si própria. Basta olhar para a mãe Natureza para vermos nela uma ordem complexa, que conhecemos precariamente, através do empirismo, por interagirmos com ela, ou da ciência, através da interpretação de suas leis. Isso nos revela algo bem simples. Há leis acima de nós que regem todo o Universo e a vida que nele prospera. Podemos dizer que somos uma parte privilegiada pela existência, pois vamos tomando consciência dela na medida de nossa evolução.
Nossa evolução requer uma consciência crescente. Nossa história revela um pouco disso, embora com deformações, que fazem parte de nosso mundo social do qual falamos acima. A grande aventura humana é a busca desse crescimento, nesse mundo mutante. Mas o que vem a ser aumento de consciência? Ela é o conhecimento do mundo em que vivemos e de nós mesmos, interagidos uns com os outros. Isto é, nós precisamos conhecer cada vez mais sobre nós mesmos e o mundo em que vivemos, sem esquecer o Universo do qual fazemos parte. Nada mais simples. Acontece que estamos vivendo um momento de proibição do conhecimento. O poder teme o conhecimento. Ele precisa de pessoas submissas para se afirmar, o que só é possível com nossa ignorância. Mas o nosso mundo das elites está em crise profunda. Nossa evolução o encantoou. Entrou na fase do desespero. Ele precisa destruir nossos pensamentos positivos, nossos princípios espirituais, filosóficos, científicos e nossa criatividade, seu mais perigoso adversário. Só isso explica a histeria que nos envolve, que foi potencializado pelas eleições. Vejamos como ela se manifesta.
Comecemos pela questão da liberdade. Em artigo divulgado recentemente o escriba, do alto de sua pretensa autoridade, pontifica: “Liberdade para quê? Liberdade para quem?” Ele fala da liberdade como se ela necessitasse definir seu uso e seu destinatário para justificar-se. Sua ignorância não permite saber que a liberdade é um princípio que existe por si só. Ou sua intenção é simplesmente desconhecê-la como direito inato do ser humano. Ao desqualificar esse princípio elee seus pares se sentem livres para tripudiar sobre qualquer pessoa. Esse é o princípio da tirania.
Na linguagem dessa corrente a farsa é apresentada como verdade Quando esta é revelada a respeito deles torna-se insulto. Para eles as conquistas de direitos políticos, civis e trabalhistas são privilégios. As crenças religiosas, ou posições ideológicas, que defendem interesses legítimos de classes sociais, são heresia. Somente suas ideias devem prevalecer, as dos outros é lixo. Essas práticas deixaram marcas profundas na história, como as diásporas de povos inteiros desde a antiguidade até nossos dias, como assistimos pela TV.
A diversidade que permite a sobrevivência das espécies e a exuberância da Natureza, é tornada instrumento de discriminação, como ocorre com os índios, os negros e etnias diversas. A preservação de florestas, de biomas, aquíferos, corais e outras riquezas naturais são desconsideradas em face aos lucros das empresas, especialmente estrangeiras ou as que produzem para as exportações, que recebem gordos subsídios. A criatividade que permite ao homem superar a si mesmo e às adversidades é menosprezada e também criminalizada. A arte, expressão maior do sentimento humano é vista como desnecessária ou mesmo pornografia.
Para encerrar essa pequena lista de barbaridades, confrontemos as riquezas exuberantes do Brasil com a condição social do trabalhador brasileiro. Mal remunerado, desempregado, subempregado, faminto nas favelas e nos mais variados rincões do país, e ainda perdendo direitos duramente conquistados. Quem tem consciência que o valor das mercadorias tem sua fonte exclusiva no trabalho humano, preceito reconhecido pela Igreja Católica em textos do Abade Galiani, de 1751, e nas encíclicas Rerum Novarum e Centesimus Annus, horroriza-nos comparar as condições de nossos trabalhadores com o escândalo da dívida pública brasileira, que transfere um bilhão de reais por dia, em dinheiro, levando 50% do Orçamento da União para os banqueiros distribuírem pelos bilionários do mundo, dentre eles alguns poucos brasileiros. Enquanto isso a dívida cresce na mesma proporção do pagamento em dinheiro dos juros.
Se quiserem saber onde está a mãe da corrupção no Brasil é fácil. Basta abrir a “caixa-preta” do Banco Central do Brasil. Tudo o mais é cortina de fumaça para esconder a colonização do Brasil em marcha, comandada pela cúpula mundial do capital financeiro internacional.
Estamos sendo submetidos a um massacre, não pelos erros daqueles que representavam e representam a todos, mais a eles (a elite colonizadora) que a nós, porque a eles foi dado quase tudo, enquanto para nós, os produtores da riqueza, quase nada. Nunca esquecendo: com nossa conivência, é claro. Agora querem nossa absoluta subordinação, a servidão, a escravidão, se assim o considerarem necessário. Mas não vamos ceder. Para isso algumas providências precisam ser tomadas. A primeira é combater suas armas mais perigosas: nossa alienação, construída por seus poderosos meios de comunicação, e seus meios de coação, sendo o pior deles seu dinheiro falso. Pensem nisso.
Rio de Janeiro, 08/11/2018.