Arquivos de setembro, 2018

21, setembro 2018 6:15
Por admin

Questão de bom senso! É Ciro ou o caos!

Arnaldo Mourthé

Em 13/9/2016, publiquei um artigo sobre a crise política de então, do qual transcrevo alguns trechos abaixo:

… “Se observarmos atentamente as posições das pessoas nas suas participações em manifestações ou através da imprensa, verificamos que as posições são na sua grande maioria contrárias a alguma coisa e não a favor de outras coisas.”… “Todas as posições poderão ser plenamente justificadas separadamente. Mas o conjunto delas demonstra uma tendência para a negatividade e não pela afirmação que se manifestaria por reivindicações claras”… “Tudo isso indica que é necessário que os brasileiros comecem a pensar mais positivamente, ou seja, a favor do atendimento de suas necessidades, inclusive da sua própria segurança e da Nação, em vez de buscar culpados pelo caos que vivemos sem qualquer conhecimento das causas mais profundas de tudo isso.”…

            … “Diante desse quadro, sugiro que passemos a pensar mais nas nossas necessidades e nas formas de atendê-las, a partir de melhores salários, na escola para nossos filhos, na saúde honesta e gratuita, como ocorre nos países europeus, no desenvolvimento econômico voltado para os interesses nacionais e na soberania da Nação brasileira que o povo nas ruas pediu em junho de 2013. Mas como obter tudo isso? Devemos trabalhar todos em função de programas de atendimento de nossas necessidades e de nossas vontades na medida da possibilidade de cada um.”

Mas não foi o que ocorreu. A paixão da luta gerada pelo impeachment da Presidente, fez cegar a maioria da população, que de lá para cá troca insultos, ofensas e acusações, ora fundadas ora não. A Nação havia sido dividida ao meio na eleição de 2014. De um lado o candidato da burguesia, que atendia os interesses dos mais agraciados. Do outro, a candidata mais popular, autointitulada de esquerda, que também defendia os interesses da grande burguesia, mas se cobria com o manto de uma política populista compensatória para aliviar o sofrimento dos mais pobres massacrados pelas elites e pelo capital estrangeiro.

Os dois enganaram o eleitorado e deu no que deu. A Nação dividida caminhou para o colapso. Estamos vivendo a pior de todas as crises, e muitos dos seus efeitos foram potencializados negativamente por nossa desunião. Estamos inertes em face de inimigos poderosos que constroem nossa dominação.

Agora, nas vésperas da eleição presidencial, o quadro dessa divisão se manifesta de forma dantesca. Parece o “inferno de Dante”. Parte da população tomou consciência dos riscos do radicalismo inconsequente que impera ainda entre nós. Vejamos como isso se manifesta nas pesquisas de intenção de voto dos eleitores. Os dois candidatos que representam os dois lados da divisão de 2014 polarizaram as eleições pelo caminho mais estapafúrdio, o da negatividade. Eles não são candidatos de programas construtivos. Alimentam-se da negação do outro, da forma mais grotesca, porque sem qualquer fundamento construtivo. Não entraremos aqui em questões políticas que só alimentaria a polarização, mas no seu aspecto destrutivo, das instituições, da Nação, e da sociedade que as criou. Qualquer que seja o resultado da eleição, a favor de um ou de outro dos polarizados será um desastre. Qualquer homem comum pode verificar isso. Vamos apenas dar alguns sinais para evidenciar isso.

A última pesquisa de opinião do IBOP já indica um fato que arrepia o analista. O percentual de rejeição dos dois primeiros colocados nas pesquisas, aqueles que polarizam a campanha, cada um se colocando como o bem, enquanto o outro representa o mal. A intenção de votos para os dois no segundo turno é menor que sua rejeição pelo eleitorado. Isso quer dizer que, mantida essa situação, o futuro presidente seria recusado pela grande maioria dos brasileiros. Como enfrentar a gigantesca crise que atravessamos com um presidente sem o respaldo da população. Não faremos qualquer observação sobre a pessoa ou a representação política dos candidatos. Apenas relatamos o juízo que o eleitor faz deles. Os dois que estariam no segundo turno se a eleição fosse hoje não representam o eleitorado brasileiro.

Isso não quer dizer, necessariamente, que a eleição seja a negação da instituição que os políticos e juristas gostam de chamar de Estado de Direito. As pesquisas de intenção de voto mostram apenas que o sistema eleitoral é  falho e pode produzir uma aberração, mesmo que na contagem de votos não haja fraude.

O interessante é que a pesquisa de outra entidade, a Datafolha, confirma  a do IBOP, com pequena divergência nas hipóteses de outras candidaturas no segundo turno, que não seja necessariamente os dois primeiros colocados na pesquisa. No confronto entre cada um dos primeiros colocados nas pesquisas com o candidato Ciro Gomes, este ganha dos dois. Na da Datafolha, posterior à do IBOP, a diferença a favor de Ciro é maior. Para um analista atento, isso significa que Ciro tende a crescer e que há pelo menos em torno de 30% do eleitorado com  bom senso no Brasil, número de migrações para Ciro, no segundo turno, de eleitores que hoje  votam em outros candidatos pelas mais variadas razões.

Esse fenômeno só ocorre de forma clara com o candidato Ciro Gomes. Ele evidencia a preocupação dos eleitores com a vitória de qualquer dos dois que polarizaram a eleição. Mas de nada adianta esse bom senso depois do desastre ocorrer no primeiro turno, pois estariam no segundo turno somente os dois atuais primeiros colocados no primeiro.

Esclareço que não tenho compromissos eleitorais nem trabalho para nenhum dos candidatos. Optei por ficar fora do jogo eleitoral, por razões que não cabe aqui explicar. Mas pela minha experiência de mais de meio século de política no Brasil, e fora dele – em comprimento de missões políticas – não me permite alhear-me desse evento fundamental para o Brasil, em momento tão doloroso. Se as pessoas de bom senso, mobilizadas nas  campanhas periféricas e, até mesmo, alguns daqueles que apoiam os candidatos rejeitados pela maioria da população não reverem suas posições, aliando-se com Ciro, provavelmente teremos uma catástrofe: um país ingovernável por falta de confiança da população nos seus representantes. Já estamos vivendo o mais doloroso momento do Brasil agravado pelo desgoverno que está destruindo nosso Estado e nossa Sociedade, ou seja, nossa Nação.

Apelo a todos para a uma reflexão. Cometido o erro que apontamos, não adiantará chorar sobre o leite derramado.

Rio de Janeiro, 21/9/2018.

18, setembro 2018 6:05
Por admin

 

A transmutação

Arnaldo Mourthé

A condição caótica que a humanidade atravessa ultrapassa a compreensão da maioria das pessoas. Tudo que parecia ter uma lógica, mesmo que ela não atendesse nossas expectativas, já nos parece confuso e contraditório. Nossa percepção está correta: tudo está confuso e contraditório. Isto é, nossa competência tornou-se insuficiente para analisar as situações, mesmo aquelas às quais estávamos habituados. Os que se consideravam sábios, são os mais confusos. Suas observações, consideradas anteriormente sábias, tornaram-se frágeis, incapazes de explicar aquilo que anteriormente eles pareciam dominar no plano teórico, da razão. Quando insistem nos seus supostos conhecimentos, tornam-se dogmáticos, autoritários e irrecorríveis, avessos ao contraditório.

O futuro parece-nos nebuloso, mesmo indecifrável. Seria o “fim dos tempos”? Essa expressão, encontrada em textos bíblicos, e repetida por muitos sem qualquer reflexão, assusta alguns. Há quem tire proveito disso “vendendo” o Céu para pobres crentes. O “Fim dos tempos” não é o fim do Mundo. Trata-se realmente de certo tempo, certa época, certa condição. O termo Apocalipse, usado como catástrofe, não tem esse significado da sua origem, que é Revelação. Um momento de revelação, onde a verdade será conhecida. Simples assim. Esse é o novo tempo do fenômeno da transmutação, a superação de uma condição para alcançar outra condição superior.

O fato é que vivemos um tempo de mudanças radicais. Alguns podem não saber, mas tudo que existe, da luz mais sutil à matéria mais densa, é energia. Foi esse conhecimento que levou Einstein a formular a relação entre matéria e energia na sua conhecida fórmula E=mc², que permitiu aos cientistas construírem a bomba nuclear, triste decisão. Sendo tudo energia, como podem existir tantas coisas diferentes? Simplesmente pelo nível de vibração da energia. A cada nível de vibração ela se manifesta de uma maneira diferente, da matéria mais inerte à luz mais sutil. Há muitas coisas que não conseguimos compreender, pois nosso saber está restrito à condição na qual vivemos e a nossas experiências. A partir de certo nível de vibração da energia é possível ocorrer a vida como nós a conhecemos, os micro organismos, as plantas, até o ser racional que é o homem. Mas há vida além dessas que conhecemos. São os espíritos nas suas mais diversas expressões. Tudo isso forma o Universo ou os universos, como formulam alguns.

Sem esses conhecimentos e outros que podemos alcançar não é possível interpretar de forma correta o que ocorre no Planeta Terra. A crise que vivemos no Brasil está em todo o Planeta, em manifestações tão diversas que alguns não percebem a crise. Isso porque ela não é só financeira, econômica, institucional, ética e moral, mas uma crise de mudanças de condições vibracionais do próprio Planeta, e mais que isso, de parte do Universo. Entretanto, isso não significa que nós não tenhamos responsabilidades na crise que vivemos, porque nossa ignorância trava sua solução. Nós fazemos parte do Planeta. Nossos pensamentos, que são vibração energética, atuam sobre a Natureza e, sobretudo, sobre as outras pessoas imobilizando-as nos seus pensamentos errôneos e dogmas, crenças infundadas. Essas pessoas mantêm a vibração da condição anterior, na qual vivíamos, impedindo que a nova condição de vibração superior se imponha alterando as conflituosas que nos mantêm indefesos diante do egoísmo dos dominadores, que fazem de nós joguetes e nos escravizam.

O caos que estamos vivendo ainda existe devido à nossa ignorância que nos leva a atitudes negativas, principalmente ao conflito com os outros, nossos semelhantes e com a própria Natureza. Hoje, no Brasil, esse conflito se manifesta na sua forma mais expressiva nos embates eleitorais. No acirramento das vontades, sem verdadeiros fundamentos, gerados por nossas ilusões. Essas nos são impostas, desde nosso nascimento quando nos deparamos com preconceitos que nos são incutidos de forma sistemática por um sistema perverso, ao qual não escapam nem as pessoas de boa vontade e nossos familiares que nos criam com tanto amor. A alienação é sistêmica. Não vou citar exemplos para não ofender a pessoas de boa fé, nas suas mais variadas crenças que incluem pensamentos errôneos inoculados nos seus cérebros, de tal forma que parecem a mais pura verdade.

Prezados amigos. Parece que o Apocalipse catástrofe chegou para nós, mas isso é apenas mais uma ilusão. O que chegou é a Revelação. É a esta que Jesus de Nazaré se referia ao afirmar conhecereis a verdade e a verdade vos libertará. Essa libertação implica em outro fenômeno a que ele se referiu como a separação do joio do trigo. Está apenas em nossas mãos  alinharmos com a fraternidade e conseguirmos nossa libertação, ser o trigo, ou com o egoísmo e escolher ser o joio.

Rio de Janeiro, 14/9/2018.

07, setembro 2018 10:35
Por admin

“O quinto dos infernos”

Arnaldo Mourthé

Nos primórdios da colonização do Brasil D. João III decidiu conceder a exploração do território a pessoas de sua confiança e com posses, capazes de fazer os investimentos necessários a tamanha empreitada. Isso se deu nos anos de 1534 a 1536. Assim foram criadas as capitanias hereditárias, concessões territoriais aos donatários, seus governadores, com o poder de explorarem suas riquezas, mas sem direito de propriedade das terras. Para tal ele usou dois instrumentos jurídicos, a Carta de Doação, que concedia a posse e a Carta Foral, que explicitava direitos e deveres dos donatários. Foram doze donatários para as quinze capitanias criadas. A eles foi conferido o direito de escravizar os índios, para os trabalhos na lavoura ou para enviá-los a Portugal, nesse caso em número limitado. Lhes era garantido o direito de cobrar 10% sobre as pedras e metais preciosos retirados de seu território e o dever de recolher mais 20% para a Coroa portuguesa. A liberdade do donatário era enorme. Ele administrava e explorava o território, tinha o poder de subconceder terras para exploração a terceiros e de combater os intrusos ou os índios que impedissem as ações de colonização.

No período da exploração do ouro na região das Minas, de onde veio o nome do Estado, Minas Gerais, foi mantido o tributo de 20% do valor de todo ouro ali extraído. A riqueza era enorme. Apenas a região das Minas produzia mais ouro que todo o resto do mundo. Daí a riqueza do Império português. Ouro preto era a segunda maior cidade do Império, depois de Lisboa. Era também a segunda maior cidade das Américas, depois da cidade do México,  construída sobre a capital do Império Asteca. O Brasil não apenas financiou a expansão do Império português como enriqueceu os banqueiro da Inglaterra e dos Países Baixos. Dali adveio a força do sistema financeiro mundial  que hoje invade o mundo por toda parte na tentativa de dominá-lo.

Com a redução das minas de aluvião, as catas, e o impedimento da criação de indústrias necessárias para a produção de equipamentos para a perfuração de minas e buscar o ouro nas entranhas da terra, como mais tarde se fez e até hoje se faz. Houve uma grave crise econômica nas áreas de mineração. A indignação dos mineiros produziu o momento independentista Inconfidência Mineira, que todos nós devemos conhecer. Mesmo assim o quinto do ouro foi mantido a ferro e fogo. Os catadores se arruinavam e a economia se estagnava. Quando da cobrança do tributo, o contribuinte costumava dizer: “Vai buscar o quinto nos infernos”. Daí surgiu a expressão “quinto dos infernos”, o imposto cobrado para a Corte portuguesa, título deste artigo.

Apesar dos tributos à Corte e dos 350 anos de escravidão o Brasil se fez Nação. Mas nossa nação está sendo demolida pelo novo “quinto dos infernos”, que são os juros da dívida pública brasileira. Os Inconfidentes de insurgiram contra a cobrança do quinto do ouro. Mas o Brasil continuou a trabalhar para manter-se e crescer, além de alimentar os vampiros internacionais. Não fosse essa espoliação seria uma das nações gigantes do Planeta. Mas a espoliação cresceu exponencialmente. Nós não pagamos apenas o “quinto do ouro” e dos outros metais e pedras preciosas. Nós pagamos “o quinto dos infernos” sobre tudo o que nós produzimos, mercadorias ou serviços. Essa situação fez com que nossos serviços públicos se deteriorassem e nosso patrimônio, público e privado, vendido ao capital estrangeiro. Somos hoje uma nação ocupada pelo capital financeiro, fonte da epidemia de corrupção que demole e desagrega o País. Se você duvida do que afirmei acima, informe-se sobre a dívida pública e suas consequências, e a participação do capital estrangeiro na nossa economia.

A queima do Museu Nacional não foi por omissão ou descaso de gestores ou funcionários. Pelo contrário, eles se sacrificaram durante muitos anos para mantê-lo funcionando. Ela foi produzida pela demolição do Estado e da Sociedade, de forma deliberada pela ganância dos investidores e a corrupção de políticos e formadores de opinião.

Nós já nos referimos à Inconfidência Mineira. Lembremo-nos também dos abolicionistas que combateram a escravidão. Foram muitos. Para representá-los, transcrevo abaixo pequenos trechos de dois poemas de Castro Alves, “Navio negreiro” e “Vozes d’África”.

 

Navio negreiro

Senhor Deus dos desgraçados!  
Dizei-me vós, Senhor Deus!
Se é loucura… se é verdade
Tanto horror perante os céus?!
Ó mar, por que não apagas
Co’a esponja de tuas vagas
De teu manto este borrão?…
Astros! noites! tempestades!
Rolai das imensidades!
Varrei os mares, tufão!

Quem são estes desgraçados  
Que não encontram em vós
Mais que o rir calmo da turba
Que excita a fúria do algoz? 

                        *

Vozes d’África

Deus ó Deus! Onde estás que não respondes?

Em que mundo, em qu’estrela tu t’escondes

Embuçado nos céus?

Há dois mil anos te mandei meu grito,

Que embalde desde então corre o infinito…

Onde estás, Senhor Deus?…

A resposta virá, embora muitos não creem. E é para já!

Rio de Janeiro, 05/9/2018.

 

03, setembro 2018 7:08
Por admin

Que o Museu Nacional seja o último patrimônio do Brasil a ser queimado!

Arnaldo Mourthé

Dia 2 de setembro. Um nova data da coleção das tragédias nacionais. O fogo devastou o Museu Nacional, na Quinta da Boa Vista, no Rio de Janeiro. Terá sido acidental o sinistro? Não o foi. Ele era previsível, dado o descaso das autoridades para com a coisa pública. Ainda há a hipótese que tenha sido criminoso. A proliferação das chamas foi de uma rapidez difícil de ser compreendida. Basta observar o prédio do alto. Um edifício com aquela extensão não poderia ser todo alcançado pelas chamas em tão pouco tempo, considerado o relato de quem acionou o corpo de bombeiros e a presteza do atendimento à chamada: seis minutos. Mas essa é uma questão de polícia, embora seja de nossa responsabilidade investigá-la. A proporção do evento e seus significados nos impõe esse cuidado.

O Museu Nacional não é um caso isolado. Ele é um ponto de uma enorme série de eventos que visam destruir nossos patrimônios públicos, para desorganizar nossa sociedade, a fim de prepará-la para aceitar a submissão ao atual candidato a ser nosso senhor. O primeiro senhor foi a Coroa portuguesa, que o fez através das Capitanias Hereditárias, que implantaram a escravidão no Brasil, primeiro dos índios, o que não conseguiram viabilizar, depois dos africanos capturados ou comprados dos reis tribais que os capturavam de outras tribos. Instituiu-se um sistema escravista que se manteve por 350 anos. Depois foram os barões, da cana, do ouro e do café, que constituíram uma casta, que deixou como descendentes uma elite  calhorda que insiste que o Brasil é propriedade dela.

Dos senhores de engenho aos barões do café, as castas que dominavam o Brasil pela concessão ou propriedade das terras viveram da aliança com o explorador estrangeiro, cortes, traficantes de escravos e mercantilistas de toda espécie, para a espoliação do povo brasileiro e do nosso território, pródigo em madeiras, produtos agrícolas, ouro e pedras preciosas, e minério de toda espécie.

Houve um momento que a população se viu tão humilhada e espoliada, que se lembrou dos Inconfidentes Mineiros e revoltou-se. Isso foi na segunda década do século XX. Começou com a greve geral em São Paulo em 1917, onde já havia um embrião da classe operária nascida da recente industrialização e da urbanização consequente. Na segunda década do século XX, a indignação manifestou-se nas revoltas dos tenentes pelo Brasil afora, e nos movimentos dos intelectuais, cuja maior expressão foi a Semana da Arte Moderna de São Paulo, em 1922.

O Brasil amadurecera para tomar conta de seu destino. A crise econômica de 1929, que se iniciou nos EUA, faliu cafeicultores e banqueiros. Os “barões do café” desesperado tramaram manterem-se no poder para aplicar uma política financistas que os beneficiasse e os tirasse da crise, com mais sacrifícios da população trabalhadora, operários e classe média. Fraudaram a eleição a favor de seu candidato. A população se indignou e os estados do Rio Grande do Sul e Minas Gerais decidiram intervir. Houve a Revolução de 30, que deu um rumo ao Brasil buscando a industrialização e a proteção do trabalhador, através de uma política social, priorizando a educação, a saúde e a legislação social, através das leis trabalhistas e da Previdência Social, e da extensão às mulheres do direito ao voto.

A elite calhorda desbancada do poder não se conformou. Aliou-se a interesses estrangeiros e, juntos, investiram contra os presidentes progressistas, especialmente, Getúlio e Juscelino. Uma conspiração alimentada pela corrupção levou Getúlio ao suicídio e, mais tarde, tentou impedir a posse de Juscelino. Quando sua tentativa da elite de voltar ao poder tropeçou no rompante de Jânio, que ela conseguiu eleger contra o general Lott, mas que não conseguiu governar por contradições internas de seus apoiadores. Sobrou o governo para Jango que tentou resgatar a política social e de desenvolvimento de Getúlio. Veio o golpe de Estado com apoio ostensivo das corporações internacionais e do próprio governo dos EUA. Depois disso todos conhecem a história. A ditadura, com sua atrocidade e obscurantismo, e os governo que vieram depois, controlados pelos deputados corruptos da elite e pelo capital financeiro que financiou desde FHC à tragédia nacional de hoje. Daí para cá começou a ser queimado nosso patrimônio.

Tudo começou o ataque sistemático à Constituição de 1988, que Ulisses Guimarães via como a “Constituição Cidadão”, mas FHC como um obstáculo a seu projeto de entregar o Brasil ao controle da capital financeiro internacional, classificando todos que a apoiavam de “dinossauros”, no sentido de pré-históricos. Para ele a história deveria começar com o neoliberalismo que escraviza todos aos interesses do capital financeiro. Implantou um projeto de “queima” do patrimônio nacional, público e privado. O capital financeiro comprou tudo, como o os votos dos congressistas para as reforma da constituição, incluindo a da reeleição, e a mídia, que já era dominado em grande medida pelas corporações controladas por ele.

A corrupção torou-se endêmica, infiltrando no público e no privado, especialmente na mídia, que tornou-se dócil e manipulada para enganar a população. Criou-se condições  favoráveis para desmantelar o poder político, submetido ao corruptor, o aparelho de Estado e a economia nacional, que passou a ser fornecedora de “commodities” , minerais e alimentos, que geram os dólares que voltam para sua origem como pagamento dos lucros e juros obtidos pelo capital estrangeiro, sem fronteira e sem lastro: dinheiro falso. Foi criada uma monumental dívida pública para aprisionar os governantes ao capital financeiro e para consumir o orçamento, obtido através de impostos pagos pelo trabalho mal pago do brasileiro.  Os juros da dívida foram comendo todos os impostos e destruindo os serviços públicos. O patrimônio público se  deteriora e as pessoas ficam desassistidas. O déficit orçamentário torna-se volumoso, o que serve de argumento para vender todos os patrimônios públicos. Até o que está debaixo da terra ou do mar, como o petróleo. Querem privatizar o sistema elétrico e com ele as nossas águas fluviais. Fala-se até um privatiza o aquífero Guarani, uma das maiores riquezas da Terra. É a política da terra arrasada. Os números do desmonte espanta o mais pacato do cidadão. As pessoas não reagem porque não conhecem nossa realidade, e não têm nem capacidade para acreditar no que está acontecendo.

O desmonte vai além do patrimônio. Atinge toda a sociedade, a todas as famílias, a todas as pessoas. Mesmo os privilegiados, pois estão deixando de ter uma Pátria. Eles aceitam a condição de vassalos do dominador, o capital financeiro internacional. A saúde, a educação, a cultura,  a qualidade vida, a natureza, a moral, tudo se degrada. A ética não é mais  considerada, pois não há mais respeito ao outro. A mídia é o segundo maior instrumento dessas atrocidades, depois do dinheiro da corrupção.

Esperemos que, ao ver queimado o Museu Nacional, a população acorde de seu sono, que parece eterno, e que dê um não a tudo isso. Que a intelectualidade acomodada no seu aparente conforto acorde também. Ela não escapará ao desmonte. Não serão apenas aqueles que perderam seus empregos as vítimas do capital financeiro nacional e internacional. Seremos todos nós. Está na hora de decidir. Nós ou eles?

Rio de Janeiro, 03/9/2018

05, maio 2022 11:36

Bienal do Livro Rio 2021

13, novembro 2021 12:56

Mini Primavera dos Livros 2021

09, agosto 2021 12:10

Editora Mourthé na FLI BH 2021 - 4a Edição