Pensar o futuro é preciso! II


A falsa lógica sofista dos marqueteiros

Arnaldo Mourthé

Nós vimos no artigo anterior como uma Nação pode ir ao colapso quando se deixa levar pela lógica falsa dos marqueteiros, o sofisma. Mas o que vem a ser isso?

O dicionário Aurélio define o sofisma como o “argumento aparentemente válido, mas, na realidade, não conclusivo, e que supõe má fé por parte de quem o apresenta”. O raciocínio sofista parte de uma premissa falsa para chegar à conclusão que se quer. Ele pode também utilizar uma lógica falsa para distorcer as conclusões a partir de premissas verdadeiras. Em um ou outro caso, pode-se dizer que algo vicioso seja inerente à virtude, ou algo injusto seja apresentado como justiça.

Os dois casos podem ser exemplificados. Um é o do advogado do presidente Michel Temer dizer que o fato dele receber um investigado pela justiça, que lhe relata um crime,  é apenas uma postura de tolerância inerente ao exercício parlamentar. Mas ele não estava ali como parlamentar, mas como Presidente da República. Outro é o argumento de que é necessário fazer as reformas, trabalhista e previdenciária, porque sem elas o Estado torna-se insolvente. O que é uma falsidade, pois essas leis já vigoram há mais de meio século sem criar problemas para o Estado. O que arruína os cofres públicos é a licenciosidade na formação da dívida pública e no pagamento de juros astronômicos.

Somam-se ao sofisma outras graves falsas concepções que regem nosso poder. Uma delas é a decantada “soberania do Congresso”. De fato, no texto constitucional, ele é soberano para a elaboração de leis, enquanto o Executivo o é para sua aplicação, e o Judiciário para o julgamento da legalidade das ações dos três poderes, assim como dos cidadãos. Mas essa soberania vem de onde? Vem do voto que os elegeu. Vem da escolha do cidadão que neles votou. Se o cidadão pôde escolher os mandatários é porque tem poder para tal. É esse poder que é transferido aos eleitos que passam a ser mandatários, aquele que cumpre o mandato a ele atribuído pelo poder real dentro do regime republicano, que é o cidadão. Este sim é o poder. Se assim é, é um absurdo que o Congresso seja soberano para votar leis contra o cidadão, o detentor real do poder que o elegeu. Isso é uma aberração. É dessa forma que nosso País está sendo governado, ou desgovernado, dirigindo-se para o suicídio enquanto República e Nação.

Outra concepção que fere profundamente nossa saúde de Nação é a falsa “liberdade de imprensa”. Não há dúvida que a imprensa precisa ser livre para informar os fatos que ocorrem no país e no mundo. Mas para informar! Eventualmente para opinar, que é também uma questão de liberdade do cidadão. Mas não deve ser para desinformar. Deturpar fatos e bloquear opiniões que contrariem os interesses de quem a sustenta, os anunciantes, não é liberdade, é abuso. O anúncio é um direito de quem promove o que cria, produz ou vende. Mas não pode ser um instrumento de constrangimento da liberdade de expressão, impedindo a difusão da verdade que fira o interesse do anunciante, financiador da imprensa.

Esse comportamento é também corrupção, pois, trata-se de impedir a divulgação de informações relevantes para a população, por interesse financeiro ou concessões do Poder Público, enquanto escondem irregularidades e ilegalidades. O maior exemplo disso é a questão da dívida pública. É absolutamente proibido à imprensa revelar a verdade sobre o endividamento público, a causa real de nossa crise financeira, institucional e social. Fala-se muito de Lava-Jato, e de outras operações contra a corrupção, mas a imprensa está proibida de falar sobre a principal causa da crise financeira: a sangria de cerca de 50% do orçamento da União para o pagamento de juros. Aí sim, está o centro da crise. É por isso que falta dinheiro para o serviço público e para investimentos essenciais.

Nosso mais grave problema enquanto Nação é nossa submissão a uma mídia mercenária, em um quadro de uma guerra internacional do capital financeiro contra os povos, e especialmente no Brasil onde se trava nesses últimos anos uma guerra sem tréguas para nossa submissão total aos interesses do capital financeiro.

Se não nos debruçarmos sobre essa questão estaremos fadados à ruína enquanto Sociedade e Nação. Mas para enfrentar essa guerra os líderes do nosso povo precisam se preparar. A primeira coisa a fazer é buscar conhecer nosso inimigo e a nós mesmo. Façamos isso ao mesmo tempo, pois é urgente. Para ilustrar essa situação, termino esse artigo com um ensinamento do maior general-pensador da antiguidade Sun Tze:

Se você conhece o inimigo e conhece a si mesmo, não precisa temer o resultado de cem batalhas. Se você se conhece, mas não conhece o inimigo, para cada vitória ganha sofrerá também uma derrota. Se você não conhece nem o inimigo nem a si mesmo, perderá todas as batalhas.

Em qual dessas situações você se sente, prezado amigo?

Rio de Janeiro, 30/5/2017

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