Querem destruir nossa Nação e nossa sociedade


“Ir com muita sede ao pote”

Arnaldo Mourthé

Essa expressão era corrente nos tempos de minha infância e juventude. Ela se refere à pressa e à afobação no fazer, para obter algo que muito se deseja. Seu significado era algo como “cuidado, porque você pode quebrar o pote”, enquanto a água que se quer escorre por terra.

Talvez os mentores do governo, que aí está, não tenham tido esse ensinamento. Um, filho de migrantes, portanto criado, um pouco ou muito, à margem de nossa cultura. Outro, embora filho da terra, mas viveu sua vida profissional no mundo hermético das finanças. Grande parte dela no exterior, a serviço de grandes banqueiros internacionais, chegando a ocupar cargos de escalão em suas corporações.

Eles são, portanto, dois quadros desprovidos da cultura fundamental do povo brasileiro. Assim não têm, nem um nem outro, os conhecimentos nem a sensibilidade necessários para tratar dos problemas de nossa sociedade. São como extraterrenos recém-chegados à Terra, empolgados talvez com tanta beleza e com sua grandiosidade, mas incapazes de senti-la.

Talvez essa premissa explique porque eles fazem o que estão fazendo, desconhecendo a vontade do povo, e o porquê  foram escolhidos para fazê-lo. Mesmo assim é preciso considerar  que eles não têm muita noção das consequências de seu trabalho, independentemente das questões colocadas acima. Eles não sabem nem mesmo o que significa uma Nação, nem suas instituições da nossa sociedade subordinada ao modo de produção capitalista, onde a hegemonia política é detida pela burguesia capitalista. Deixamos de considerar nessa observação nossa posição relativa no concerto das nações, de mais ou menos desenvolvidos, para não misturar conceitos precisos com definições fajutas, que classificam as nações pelo seu grau de industrialização ou desenvolvimento tecnológico.

Eles parecem não saber que nossa sociedade, dita democrática, precisa de certo tipo de instituição e de definição de direitos daqueles que a constituem. Por isso estão tentando destruir os direitos trabalhistas e previdenciários, necessários para que o Brasil chegasse à condição de nação moderna com instituições republicanas, embora geridas por forças políticas subordinadas à hegemonia da burguesia capitalista, associada ao capital estrangeiro produtivo.

Esse sistema só ganhou corpo com a Revolução de 30, que, reconhecendo os direitos de cidadão aos trabalhadores, criou as condições para o desenvolvimento das forças produtivas no Brasil, portanto favorecendo à nossa burguesia da cadeia produtiva. Para tal foi preciso que o Estado investisse nas indústrias fundamentais, as indústrias de base, e na infraestrutura de transporte e da produção de energia utilizável no processo produtivo. E, também, nos bancos de fomento da atividade produtiva. Esse sistema, conquistado sob a batuta de Getúlio Vargas, fez com que o Brasil se transformasse de um simples país “subdesenvolvido” – como dizem os intelectuais das metrópoles – em um país industrial e produtor de energia, alimentos e produtos minerais. Nesses dois últimos itens ele tem presença forte no mercado mundial, já subordinado aos interesses das grandes potências.

Esse processo foi penoso, pois a ganância das castas sociais internas e do capital estrangeiro, conspirou todo tempo contra o avanço do Brasil para a condição de potência econômica. Fizeram de tudo para assumir o controle do País. A primeira coisa foi liquidar Getúlio Vargas. Depois pressionar e desestabilizar os governos que pretendiam um desenvolvimento com soberania e justiça social. Como consequência, implantaram uma ditadura militar, que durou vinte anos e os atendeu enquanto existiu.

Mas eles queriam mais. Os militares, apesar de ditadores cruéis, resistiram a entregar o País à aventura do capital estrangeiro, então já sob a forma de capital financeiro, buscando o lucro sem produção. Facilitou-se assim a queda da ditadura para que o poder pudesse ser administrado por oportunistas e grotescos líderes políticos, que só viam seus interesses menores, mesmo sob a roupagem de projeto intelectual ou popular, como foram os casos de FHC e Lula.

Mas, apesar do estrago que esses governos fizeram no país para benefício do capital financeiro, eles querem ainda mais. Agora querem transformar o Brasil em colônia, como se fosse fácil nos subordinar a seus mesquinhos interesses. Colocaram no poder figuras ridículas e desprovidas de qualquer grau de patriotismo, para alcançar seus objetivos: subordinar o País a seus interesses pecuniários e de dominação. Mas o Brasil está reagindo. Essa reação exige da parte deles pressa no processo de dominação, enquanto manipulam um Congresso corrupto e desfibrado, impondo, através de legislação vergonhosa, o esfacelamento do Estado e de nossa Sociedade.

Daí a pressa definida neste artigo, como “ir com sede ao pote”: investir na urgência para alcançar seus objetivos. É por isso que estamos assistindo a essa tragicomédia da liquidação dos direitos trabalhistas e previdenciários, a toque de caixa. É assim que eles tentam liquidar com a capacidade da população reagir, submetida aos mais mesquinhos interesses do patrão. Sem a Lei que o proteja, o trabalhador será conduzido à condição de pedinte nas suas relações com o patrão, que poderá despedi-lo a seu bel-prazer, o que o levará ao desespero por não poder mais atender às necessidades mínimas de sua família. Para completar esse quadro de horror é providencial um grande número de desempregados que terão de aceitar condições miseráveis de trabalho, no lugar daquele que tentou defender sua dignidade.

Chegamos a um momento crítico do nosso processo histórico. Ou derrotamos esse inimigo terrível ou seremos submetidos à sua dominação, em um processo de regressão histórica, jamais visto. Não há como tergiversar em relação ao governo Temer, um agente do capital financeiro internacional com a missão de nos transformar em colônia. Simples assim.

Rio de janeiro, 07/5/2017

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