Chegou a hora de assumirmos nossas responsabilidades


Chegou a hora de assumirmos nossas responsabilidades

Arnaldo Mourthé

Nós, brasileiros, dispomos de um país privilegiado pela Natureza. Nosso território é ensolarado, fértil, temos as maiores florestas da Terra, o maior caudal de água doce do mundo, a maior riqueza mineral, que inclui gigantescas reservas de petróleo, e um povo generoso, trabalhador, criativo e diversificado nas suas origens culturais e raciais, que nos faz o país mais representativo da humanidade.

Entretanto nossos índices sociais nos envergonham. Estamos entre os últimos países quando observamos nossas desigualdades, de renda, de escolaridade, de assistência médica, de saneamento urbano. Mas estamos entre os primeiros quando se trata de violência contra a pessoa, de acidentes de trânsito, de estupros das mulheres e, especialmente quando, impelidos por nossas necessidades, recorremos ao sistema financeiro para financiar nossas aflições. Os juros dos cartões de crédito, por exemplo, excedem a 400% ao ano.

Também estamos entre os primeiros em matéria de corrupção, seja no setor público, seja no privado. Os escândalos que assistimos pela televisão, e lemos nos jornais, a cada dia são estarrecedores. Embora os analistas não nos mostrem os fatos assim, todos eles estão interligados e representam uma mesma fragilidade da nossa sociedade. A discriminação social, que fica nítida no tratamento dado a pobres e ricos ou remediados. Vivemos em um mundo artificial, deformado, insano e perverso, implantado em um território de Natureza paradisíaca. Vivemos realmente a insanidade. Por que tudo isso?

Não conseguimos ainda superar nossos preconceitos, sejam contra os outros, sejam contra nós mesmos, o que nos trazem a soberba nos meios mais altos na sociedade e sensação de inferioridade e impotência nos mais baixos. Tudo isso fruto de um processo histórico marcado pela dependência, da metrópole cultural, dos centros de poder econômico e das oligarquias diversas que se formaram ao longo de nossa história e dos vários ciclos de nosso desenvolvimento econômico. O desenvolvimento social aconteceu em pequenos períodos, sempre condicionado por interesses dos mais poderosos ou combatido ferozmente por forças retrógadas internas que ousaram associarmos a poderes estrangeiros para sufocar os esforços de liberação de nosso povo. A chamada “elite” nacional, que outra coisa não é que os detentores do poder econômico, com características distintas em cada período de nossa história, é a responsável pela insanidade que nos leva ao caos social. Não preciso dar exemplos, pois todos sabem o que se passa. Basta ligar a televisão, seguir as mensagens das redes sociais, ouvir a rádio ou ler os jornais. Vivemos o caos social, sim. Mas é necessário que seja assim? Nossa experiência histórica e a história da humanidade nos mostra que há outros caminhos, e não há necessidade de passarmos pela situação lastimável em que estamos, sem liderança e sem governo que se preocupe com as necessidades de nossa gente.

Há que fazer uma reflexão sobre isso? Prefiro não culpar a história por tudo que vivemos hoje, porque quem faz a história somos nós mesmos. É preciso que assumamos as nossas responsabilidades. É preciso que tomemos consciência que quem construiu e constrói a história são os homens. Que cada erro ou acerto provém do próprio homem. Nós somos os principais responsáveis pelo que somos e pela situação que vivemos. É preciso que tomemos consciência de que a solução de nossos problemas não está apenas nos nossos líderes, pois esses são a consequência do que queremos. Se buscamos o bem, os líderes serão para o bem, se buscamos o egoísmo, os líderes serão os do egoísmo. Se nossos líderes correspondem ao egoísmo é porque assim queremos, ou assim permitimos que seja. Não há que confiar apenas nas pessoas que admiramos ou simpatizamos. É preciso confiar em nós mesmos. Nós os cidadãos somos a fonte de todo poder republicano, seja no executivo, no legislativo ou no judiciário. Não devemos nos limitar à análise de que a responsabilidade é dessa ou daquela autoridade, pois fomos nós que as colocamos no poder, hoje ou no passado. Todo o poder emana de nós mesmos, de nossa qualidade inata de liberdade e de igualdade. Todos são iguais. Todos provêm da mesma fonte. Não somos objetos do acaso. Nós estamos aqui na Terra por uma razão maior: para aprendermos, para nos realizar através da nossa superação. Somos frutos do meio e das circunstâncias, quanto a isso não há dúvida. Mas somos, antes de tudo livres, senhores de nós mesmos, dotados de inteligência e capacidade de decidir por nós mesmos, e não simples cordeiros que seguem docilmente seu pastor. A responsabilidade de tudo que está aí é nossa, de todos e de cada um de nós. Não fujamos da nossa responsabilidade!

O que estamos fazendo para superar o caos em que nos metemos? O que fizemos ontem? O que fizemos ou faremos hoje? Se não sabemos o que fazer é preciso procurar sabê-lo. Mas não seremos capazes de aprender se não formos humildes, se não reconhecermos nossas limitações, se não tivermos consciência que nossa visão do mundo e os fatos estão eivados de ilusões e de mentiras, que estamos submetidos a um processo perverso de alienação. É preciso sacudir as amarras. É preciso cortar as algemas e os grilhões que nos prendem e nos fazem escravos.

É preciso acordar e assumir nossas responsabilidades. Todas nossas responsabilidades. Se não o fizermos não haverá um país livre para legarmos a nossos filhos e netos. Nós seremos os responsáveis por sua penúria e por seu desespero. A hora é essa, precisamos tomar consciência de nossa situação de submissão e exigirmos de nosso governo o respeito à nossa condição de cidadãos. Se ficarmos discutindo com nossos iguais nossas preferências, muitas vezes rompendo sólidas amizades por causa disso, ficaremos no mesmo lugar, no caos. É hora de buscarmos a nossa unidade, a unidade dos cidadãos brasileiros, a unidade de todo o povo brasileiro para acabar com essa macabra mania dos nossos dirigentes de brincar de governar, entregando nossas riquezas e nossa Soberania para os vorazes investidores estrangeiros, os maiores predadores que o mundo conheceu. Deixaremos que nós mesmos, nossa família, e todos os nossos irmãos brasileiros sejam colonizados ou escravizados para o deleite de irresponsáveis donos do capital financeiro internacional e seus capatazes internos?

É hora de tomarmos uma decisão. Será agora, ou nunca, a não ser que queiramos que nosso país mergulhe num conflito interno monumental, cuja solução mostrada pela história seja a guerra civil. Será se queremos isso? Será que somos, além de ingênuos, irresponsáveis? Pensem nisso prezados leitores. Devemos tomar uma atitude a favor do amor ao próximo e da fraternidade. São essas duas palavras que contêm o significado mais nobre para esse momento, para a solução de nossos problemas. Voltaremos a essa questão mais tarde, noutra oportunidade.

Rio de Janeiro, 15/10/2016.

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