A casca da alienação e do temor foi quebrada. O gigante foi sacudido.


Prezado amigo (a),

A casca da alienação e do temor foi quebrada. O gigante foi sacudido. Esperemos que tenha acordado. Ficamos devemos a esta nova geração de destemidos e desprendidos, o rompimento com nossas mazelas – com destaque para a corrupção – nossos dogmas e preconceitos.

Tudo isso é apenas o início de um processo de superação de uma sociedade perversa que coloca o lucro acima da vida, desconhecendo princípios, o respeito ao próximo, a liberdade, a cidadania, a soberania da nação, a paz.

Mas como chegamos a tão lamentável situação?  O texto abaixo, extraído do meu livro “História e colapso da civilização” mostra um enfoque sintético desse fenômeno. Vamos a ele.

A luta do povo brasileiro, que conquistou a democracia e a Constituição cidadã, como a chamou Ulysses Guimarães, esbarrou nos interesses do capital financeiro que manipula o poder. A publicidade enganosa e a corrupção presidiram as reformas da Constituição, degradando as instituições e os serviços públicos, e reduzindo direitos dos cidadãos. Como consequência da política neoliberal, temos no país um desastre social. A corrupção generalizou-se, o aparelho de Estado enfraqueceu, pioraram os serviços públicos, com escolas e hospitais abaixo da crítica, a infraestrutura de transporte foi degradada e, em parte, privatizada. O Estado endividou-se sob a alegação do combate à inflação, passando a pagar juros altíssimos, manipulados pelos próprios banqueiros. No ano de 20 10 eles foram de 195 bilhões de reais. A participação do capital estrangeiro na indústria saltou de 25% para 70% em apenas duas décadas. Os problemas ambientais tornaram-se mais graves. Aumentaram a concentração de riqueza e a violência. A solidariedade e a cooperação no trabalho cederam lugar à competição desleal e às animosidades. É nesse quadro que vicejam as conspirações contra os direitos do cidadão à escola e à medicina gratuitas, ao salário digno e à organização sindical independente para defender os trabalhadores. Os partidos políticos perdem suas doutrinas, bandeiras e programas, para tornarem-se associações de interesses particulares dos seus dirigentes e atender governos dóceis aos grandes investidores.

Esse processo se dá em quase todo o mundo, numa operação gigantesca de dominação dos países. Os grandes capitalistas entregaram-se à prática de negócios escusos, tráfico de influência, corrupção e especulação, que vieram à tona na grave crise de 2008, que até hoje desmantela países, mesmo europeus, como Islândia, Grécia, Espanha, Itália e Portugal. A Islândia foi à bancarrota, e outros patinam no impasse das dívidas impagáveis. Não há mais como esconder o desastre que esse processo neoliberal está sendo para a humanidade. Sua política do dinheiro sem lastro, como paradigma de valor, é uma brutal subversão da verdade econômica e atinge os princípios humanistas dos direitos do homem e do cidadão.

O mais incrível é a passividade com que as pessoas vêem esse quadro de ignomínias. Logo a seguir, nos aprofundaremos na análise desse fenômeno e seus vários aspectos sociais, ressaltado o da alienação. A gravidade da situação gerada nos convence de que é preciso resistir. Até os governantes europeus se vergam aos interesses dos investidores em títulos públicos. Poucos são os homens lúcidos no meio de tanta perplexidade e desorientação. Um desses é o ex-presidente português Mário Soares. Ele fez uma feliz e precisa afirmação em entrevista ao jornal O Globo, publicada em 4 de novembro de 2011:

O que é extraordinário é que os dirigentes políticos atuais, aqueles que mandam ou julgam que mandam, como é o caso da senhora Merkel e do senhor Sarkozy, não mandam. Quem efetivamente manda hoje são os mercados, e não os Estados.

Estamos vivendo a fase final da nossa civilização ocidental. Outra virá. Não sabemos como nem quando virá, mas virá. É o que a história nos ensina.

Esse será um problema de todos nós. Cabe a cada um de nós fazermos nossa reflexão a respeito. Depois confrontemos todas elas. Uma solução haverá. Foi superando situações como essa que a humanidade chegou onde está.

Arnaldo Mourthé

Rio de Janeiro, 19/6/2013

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