Estratégia do medo


Observações sobre as reformas constitucionais propostas pelo governo federal, que alteram as aposentadorias e a remuneração do funcionalismo publico.

Estratégia do medo

Arnaldo Mourthé

Tentando justificar as reformas constitucionais (PEC), que o governo federal pretende – uma que fixa um teto para os gastos públicos e outra que altera o regime de aposentadorias – o presidente Temer, traça um quadro estarrecedor para os aposentados. Ele diz explicitamente que se as reformas não forem aprovadas o governo não terá recursos para pagar os aposentados. São suas as palavras: Daqui a seis , sete anos, quando eu, aposentado, for ao governo para receber o meu cartão, o governo não terá dinheiro para pagar. Em face desses pressupostos das despesas públicas em dado momento não haverá mais dinheiro para pagar o aposentado. Não estou preocupado com a popularidade, mas com o Brasil. Se eu ficar impopular, mas o Brasil crescer, me dou por satisfeito. (O Globo, 1/10/2016).

Sem levar em conta a fragilidade da comunicação e sua rusticidade, podemos afirmar que o que ele fez é uma propaganda enganosa. Mas, por que? Porque não são os gastos públicos, nem as aposentadorias, que levaram o país à crise. Como seriam os gastos públicos, se todos os serviços públicos, educação, saúde, segurança, transporte estão sucateados e produzindo um desastre social, econômico e na segurança pública? Ele está apenas tentando acuar a população para que ela não reaja a suas investidas ainda maiores contra o serviço público, a própria estrutura do Estado e o patrimônio nacional, que está sendo alienado para pagar juros escandalosos praticados pelos títulos da dívida pública. O custo dos juros pagos pelo Estado é de mais de um bilhão de reais por dia, e representa quase 50% do orçamento da União, portanto quase tanto quanto todas as despesas públicas, incluindo investimentos.

A primeira coisa que ele deveria fazer é abrir a caixa preta da dívida pública, o que não faz porque isso contraria aqueles que o puseram no poder, os grandes investidores, os controladores do mercado financeiro. Ele está fazendo propaganda enganosa, sujeita a punição nos termos da Lei de Defesa do Consumidor. Mas é mais grave que isso, é o que os psicólogos chamam de terrorismo psicológico. Este não inclui violência explícita, direta e imediata, mas pode provocar mortes e outros danos tão grandes ou maiores que o violento. Vejam por exemplo as pessoas mortas por falta de assistência médica, o que ocorre até na frente dos hospitais. Muitos outros danos podem  ser citados, sendo o pior deles os doze milhões de desempregados que sofrem as mais terríveis consequências, que nem vale a pena explicitar aqui.

Segundo o Presidente, se as medidas não forem tomadas, daqui a quatro anos 95% do orçamento seria para pagar os servidores e aposentados; os impostos teriam que ser aumentados em cerca de 10% do PIB, para cobrir o déficit previdenciário; que a dívida pública atingiria 100% do PIB em 2024. Só não falou da própria causa de tudo isso: a própria dívida pública, que na verdade é apenas uma fraude contábil. Ou somos dirigidos por pessoas completamente desprovidas do amor ao próximo e de senso patriótico, ou por pessoas completamente ignorantes em matéria de economia e administração pública. Concedamos a eles o benefício da dúvida, considerando-os apenas ignorantes. De qualquer maneira o estrago de suas ações é o mesmo, a destruição de nossas instituições e de nossa sociedade, de nossa Nação, enfim.

Com um governo desse não poderemos deixar o Brasil para nossos netos, simplesmente porque ele não será mais nosso, mas daqueles que são chamados ”os investidores”. E que serão externos, porque no andar da carruagem eles comerão também os  investidores internos, que na sua ambição egoísta, preferem maiores juros por suas economias pessoais, que escola, saúde e segurança para nosso povo.

Deixaremos que isso aconteça? E quem previu a catástrofe não foi ninguém da oposição, mas o próprio Presidente. Durma com um barulho desse!

Rio de Janeiro, 02/10/16

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