Texto do capítulo final do livro “História e Colapso da Civilização” de Arnaldo Mourthé


Sexta consideração:

Sobre a revolução, a paz e a não violência

Nós vimos como a violência, especialmente a guerra, tem um papel fundamental na construção e na manutenção dessa civilização que está em sua fase terminal. Vimos também como se travaram grandes batalhas entre filosofias e ideologias para definir os caminhos da humanidade em toda sua história. Essas batalhas foram ora pacíficas, ora violentas. As derrotas dos déspotas e dos invasores tiveram sempre esses dois componentes, a resistência pacífica e o combate violento. Mas há muito tempo predomina a crença de que as grandes mudanças, as revoluções, são produtos da violência, da luta armada. Essa visão sacrifica as ideias generosas que as revoluções buscam, em prol daqueles que controlam o poder armado, direta ou indiretamente, gerando novas violências e, consequentemente, novos conflitos que impedem a conquista dos objetivos revolucionários de justiça e paz.

Nós vimos também que só a expansão da consciência coletiva da população pode impedir uma catástrofe maior no colapso da civilização que se aproxima. Que ele será produzido por suas próprias contradições internas, que já colocaram a humanidade em um impasse. As primeiras grandes batalhas que precederão a esse colapso já começaram. Elas são, basicamente, as reações das populações às medidas impostas pelos investidores aos países devedores, que geram demissões, redução de empregos e dos serviços prestados pelo Estado à população, e que vêm degradando a sociedade pela destruição de valores culturais, éticos e religiosos. Mas ocorrem também pelo descaso para com os cidadãos dos países capitalizados, privados de serviços públicos e enganados em processos especulativos como aconteceu com os imóveis residenciais nos Estados Unidos. Já ficou claro para nós que essa civilização será destruída por si mesma. Não será preciso nenhuma ação especial para esse fim, sua destruição. Mas nós vimos também que ela vem protelando seu fim, através da dissipação da produção excedente, inclusive pela guerra, e da submissão dos povos. É muito provável que seus mentores façam tudo para produzir novas guerras e para que as reações contra eles deixem de ser pacíficas. No campo militar a vantagem é nítida para eles, pelo menos enquanto conseguirem fazer os povos de seus países acreditarem que suas guerras sejam necessárias, que sejam para manter seus padrões de vida e seus empregos.

Essa questão merece uma reflexão mais profunda. A não reação contra os desmandos dos investidores pelo mundo a fora permitirá que eles nos imponham suas regras e seus interesses. A reação armada é uma aventura de dificílimo êxito que, se ocorrer, não trará nenhuma garantia da paz, fundamental para que possamos construir um futuro de justiça e fraternidade. Essa questão nos reporta à não violência defendida e aplicada por Gandhi no processo de independência da Índia. Esse é o exemplo que merece nossa consideração e uma reflexão mais profunda. As circunstâncias indicam que os fundamentos da revolução de Gandhi, a não violência e o apego à verdade, são os mais apropriados para os afrontamentos que teremos necessariamente, diante da aventura tresloucada dos investidores para dominar o mundo. Pensemos sobre isso.

De qualquer modo, um novo mundo está se formando na nossa consciência, submetida a um novo desafio, o da preservação da humanidade. Chegou o momento de uma nova superação, individual e coletiva, para prosseguirmos no caminho da busca do nosso destino.

 

Rio de Janeiro, janeiro de 2012.

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