Seu voto pode eleger seu inimigo!


Aos católicos eleitores de Haddad e a outros iludidos por aí

Arnaldo Mourthé

Há pouco mais de uma semana escrevi o artigo: Questão de bom senso! É Ciro ou o caos! Nele analiso as contradições do voto do eleitor nesta eleição truncada, cortina de fumaça para esconder nossa realidade perversa. Voltaremos depois a essa questão.

O quadro político que vivemos está orientado para que não se expresse a verdadeira vontade do nosso povo: caminhar para uma sociedade mais justa de forma ordeira e pacífica. Ou seja, na qual sejam resolvidos nossos graves problemas humanos/sociais, com o diálogo aberto e sincero, baseado na verdade e na fraternidade. Tudo foi armado para que se acirrasse os ânimos e fossem ampliados os conflitos sociais e políticos. Assim, a verdade, escondida por falsidades de toda ordem e pela propaganda enganosa, não se revela. Podemos então sermos manipulados como boiada levada para o abatedouro, no caso mais precisamente para uma condição de colonos ou escravos de pequenos grupos de poderosos donos do dinheiro, diga-se de passagem, sem lastro ou simplesmente falso, como os juros da dívida pública.

Tudo parece dar certo para esses senhores sem face e sem alma. Mas não é bem assim. Há aqueles que não foram iludidos, ou alienados como dizem alguns, por essa máquina de lavagem cerebral que envolve poderosas instituições e uma mídia mercenária. Há ainda, e haverá sempre, pessoas lúcidas que viveram os horrores da ditadura e não se dobraram à prepotência nem à perfídia. Nós somos hoje os testemunhos vivos da história. Outros, que se foram, deixaram seus depoimentos em arte e verso para a eternidade. Não seremos iludidos nem deixaremos passar em branco as manipulações para enganar a opinião pública, nem a hipocrisia que permite a muitos passar por “gente fina”, enquanto apoiam  toda sorte de injustiças e perversidades.

Voltemos nossa atenção aos católicos que acreditam seguir os ensinamentos do Mestre Jesus e praticar as virtudes que ele nos ensinou. A maior delas foi “amar ao próximo como a si mesmo”, ensinamento que no espiritualismo é conhecido por “amor incondicional”. Essa virtude é a da compaixão, que dificilmente é praticada por causa do egoísmo gerado por nosso individualismo que rege nossa sociedade perversa. É esse individualismo que faz com que o cidadão deixa de sê-lo, ao abandonar sua unidade com os demais, aqueles com iguais direitos e deveres, por maior que seja a nossa diversidade. Esta se transforma em conflito que pode chegar à guerra, que destrói o próprio ser humano e o que ele construiu.

Essa deformação de nosso comportamento está acontecendo agora conosco, o que eu mostro no artigo referido acima, demonstrando que apesar de termos uma visão do interesse comum quando avaliamos a intenção de voto no segundo turno das eleições nós inviabilizamos essa possibilidade de satisfação de nossa vocação em defesa do Brasil em uma disputa irracional, com base no voto contra o outro, no lugar daquele em favor de uma causa justa e coletiva. Nós estamos jogando no lixo nossa oportunidade de sermos a comunidade de uma nação soberana, e tornando-nos presas fáceis de forças perversas que buscam a qualquer preço nos submeter.

O próprio Mestre Jesus que citamos acima, deixou, há dois mil anos, a fórmula para superarmos essa situação quando disse: “conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”, mas preferimos escolher a mentira que nos escraviza. Mas isso não é culpa de cada um de nós em particular. Nós vimos sendo, há milênios, preparados para sermos assim. E já o fomos quando nós – enquanto a turba ignara de Jerusalém – escolhemos libertar Barrabás no lugar de Jesus, último recurso usado por Pilatos para amenizar seu ato desumano de lavar as mãos, diante do fundamentalismo dos sacerdotes do Templo. Esse ato de lavar as mãos vem sendo usado desde então de forma sempre dramática. Citemos apenas alguns casos:

O Vaticano repetiu o gesto de lavar as mãos, muitas vezes.  Fez acordo com Mussolini em 1938, evento que ficou expresso na construção, em Roma, da ‘via della Concilizione”. Tentou convencer a Polônia a ceder território seu a Hitler e lavou as mãos quando da invasão desse país, na ilusão de que o fuhrer destruiria o regime Soviético. Apoiou abertamente o golpe militar de 1964 no Brasil, liderando o movimento fascista “Pátria, Família e Propriedade” contra João Goulart, como se ele fosse comunista. Depois se arrependeu e apoiou a anistia, que favoreceu especialmente os militares criminosos. Vale lembrar seu compromisso histórico com o movimento “Tortura nunca mais”.

Agora, de novo, quer se colocar à margem da nova investida fascista nesta eleição, apesar de todas as manifestações do Papa Francisco em defesa da diversidade e contra a discriminação e a violência. Enquanto isso, o Bispo Macedo, protegido e protetor do capital financeiro internacional, desembarca com seu fundamentalismo religioso no outro fundamentalismo político, militar e econômico, para forçar a continuidade da bipolarização da eleição entre este e o PT. Não há santo nessa história. Os dois tratam de seus próprios interesses, enquanto conciliam com a mãe de todas as crises e do caos que nos ameaça, o capital financeiro internacional. Só não vê quem não quer. Aqueles que, embora não sejam beneficiários diretos do caos, se sentem seguros na sua falsa zona de conforto ajudam a demolir a Nação brasileira, a aprofundar a crise e a jogar a população na miséria e no abandono.

Acordem católicos! Chegou a hora da separação do joio do trigo. Quem anunciou isso foi o próprio Jesus Cristo. Chegou a sua hora de escolher: ser joio ou ser trigo? Entregar o país e seu povo indefeso ao fundamentalismo, ou reagir e fazer prevalecer o desejo da maioria da população: a unidade do povo brasileiro. Somente colocando Ciro no segundo turno derrotaremos o fascista e os fundamentalismos que o cercam. Teimar em manter o Haddad na disputa é suicídio. Além de não vencer o fascista, ele não tem a menor condição de enfrentar a diversidade que encontraria no governo, pois seu partido está comprometido até o pescoço com o capital financeiro e a corrupção que ele produziu. Informe-se antes de aceitar o suicídio.

A escolha é sua, a responsabilidade pelo que virá também. Não adiantará chorar sobre o leite que você mesmo derramou. Depois não venha colocar o culpa no outro. Não há mais espaço para a hipocrisia.

Rio de Janeiro, 03/10/2018.

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