Chegou a hora da verdade


Chegou a hora da verdade

“A separação do joio do trigo”

Arnaldo Mourthé

A civilização humana chegou a um momento crucial de sua existência. Sempre houve desigualdade social nas várias etapas do processo civilizatório. Mas as relações entre os diferentes eram reguladas por crenças de diversas naturezas que evoluíram a partir da estrutura da família, a unidade básica da sociedade. Houve um tempo que o poder familiar era da mulher, geradora e responsável pelos filhos, o período do matriarcado. Mais tarde o poder passou para o homem, o principal provedor e o guerreiro que defendia a família. Com o desenvolvimento da comunidade criou-se um poder misto que se dividia entre o guerreiro e o sacerdote, interprete dos fenômenos da natureza. Com o sedentarismo e a agricultura ele se estruturou em classes, nobreza, sacerdotes e guerreiros.

O processo de mudanças foi longo e pleno de conflitos, pelo próprio poder e pela riqueza acumulada na medida do desenvolvimento do conhecimento de técnicas e ferramentas aplicadas na produção. Cada etapa correspondeu a uma forma de organização específica para a comunidade, depois a cidade e mais tarde a nação. Os registros confiáveis sobre tudo isso não são suficientes para o conhecimento de todo esse processo. Há fatos antigos que são desconhecidos. A arqueologia vem desvendando muitos mistérios sobre grandes construções da antiguidade para as quais não temos explicação. Sobre elas há mitos, teorias e especulações. Elas misturam lendas, religião, espiritualismo e ciência. Cada grupo tenta explicar a pré-história a seu modo. Na verdade a pré-história é uma caixa de mistérios. Há muito mais coisas a revelar que as conhecidas. Talvez, por isso é tão usada a frase de Shakespeare “Há mais segredos entre o céu e a terra que a vã filosofia dos homens pode imaginar”.

Mas há uma história na qual podemos confiar, desde que apreciada com critério e sem preconceitos, que nós chamamos de história da civilização. Ela mostra como a humanidade se organizou em cada fase de sua existência. Mas, por incrível que pareça, a história antiga contada é mais confiável que aquela de nossos dias, sobretudo em relação ao que aconteceu depois do Renascimento. Há muita verdade documentada, mas há também muita mentira e manipulação. Os interesses das classes dominantes deturparam a história. Mesclaram-na de fantasias que favorecem seus interesses. A mais escabrosa de todas as fantasias começou com a ideologia liberal, que ampara nossa “civilização” capitalista.

Em nome de combater os dogmas da Igreja Católica, que submeteu a Europa e parte do Oriente Médio por mil anos, regiões onde ela ainda têm grande influência, a burguesia, amparada no liberalismo, criou dogmas muito mais nocivos à humanidade que os da Igreja. Tudo para se apropriar da produção a mais que as necessidades da sociedade em um período dado. Essa apropriação obriga criar mercados incessantemente para consumir o excedente estocado, sem o que estoura uma crise econômica. Esse fenômeno ocorreu em toda a história a partir de 1810 até nossos dias. A crise que vivemos tem sua origem nessa apropriação cruel do excedente de produção por um pequeno grupo de famílias do mundo. Essa questão foi objeto de minha investigação e é revelada em diversos livros que escrevi a partir de 1998.

Não cabe em um artigo revelar toda a lógica dessa distorção ocorrida na história da sociedade humana, mas podemos denunciar sua principal consequência, a calamidade que presenciamos em todo o mundo, que no Brasil tornou-se dramática e se agrava a cada dia. Dito isso podemos ir aos fatos que justificam o título e o subtítulo desse artigo. Chegou a hora da verdade porque ocultá-la será a tragédia humana.

Na louca investida para criar mercados para o excedente de produção estocado, cada vez maior com o desenvolvimento da tecnologia, a burguesia lançou a humanidade em inúmeras guerras. Elas foram para queimar excedentes nos campos de batalha, sob a forma de equipamentos bélicos e artefatos destrutivos, e destruir países inteiros para serem depois reconstruídos. Ao transformar trabalhadores em soldados, eles conseguiram reduzir o desemprego produzido por suas crises. A reconstrução do que foi destruído gera um mercado novo. Toda essa operação gera lucro, ao lado da tragédia humana. Para justificar tamanha barbaridade foi ressuscitada a doutrina sofista grega, adotada pelos marqueteiros, para justificar a barbaria, como a defesa da democracia burguesa e da liberdade dos privilegiados, assim como o interesse nacional das metrópoles, em detrimento dos outros. Na Alemanha, Joseph Goebbels brilhava com sua propaganda nazista, definida por ele mesmo como “uma mentira dita mil vezes torna-se verdade”. Essa é orientação não revelada publicamente dada pelos senhores da informação aos seus “jornalistas” serviçais. No mundo político a mentira tornou-se “verdade”, em pronunciamentos eloquentes e arrogantes.

Tudo isso foi cria do lucro acumulado pela burguesia capitalista, arrancado do trabalho do ser humano e da destruição da Natureza. Mas tudo isso, já constatado pela história, é muito pouco se compararmos com o que está nos acontecendo hoje, aqui no Brasil especialmente. O mercado que não pode mais ser fornecido pela guerra foi substituído por vários artifícios que transformaram o modo de produção capitalista em um câncer que devora a sociedade e a Natureza. O dinheiro sem lastro foi emprestado a governos corruptos dos países periféricos para prepararem os países para receber suas empresas. Foram investidos em infraestrutura para favorecer a instalação de suas indústrias. Estas foram montadas com as sucatas da metrópole, de baixa produtividade, compensada pela espoliação desenfreada dos trabalhadores indefesos, camponeses expulsos de suas terras para implantação dos latifúndios do agronegócio.

Forçaram uma urbanização caótica para receber os expulsos da terra, que se instalaram em favelas, miseravelmente, para servir de “exército de reserva” para forçar para baixo os salários daqueles empregados, ainda que miseráveis. Ao lado do caos urbano formou-se o caos social. O desemprego, a fome, a moradia insalubre, a ignorância, doenças sem tratamento. Um quadro perfeito para a proliferação da criminalidade, que está servindo de desculpa para a liquidação do pouco que ainda existe do Estado de Bem Estar Social, iniciado por Getúlio Vargas.

Tudo isso foi fruto, no Brasil, de uma invasão silenciosa, falsamente pacífica, sob o manto da ordem e do progresso, adotado pela ditadura militar para criar as condições da ocupação, via empréstimos de dinheiro falso. Este se transformou na dívida pública que sangra o Estado, debilitando-o, massacrando os serviços públicos e degradando toda a sociedade. Não há país que possa despender 50% de sua arrecadação para pagar juros de uma dívida fraudulenta, que ainda aumenta, no valor aproximado dos juros pagos em dinheiro. A soma do pagamento em dinheiro e da emissão de novos títulos corresponde a dois bilhões de reais por dia. Ou seja, um valor correspondente a toda a arrecadação da União. Se o total do pagamento dos juros fosse em dinheiro não haveria recursos nem para pagar as despesas com a arrecadação dos impostos.

Agora ensaiam o ataque final do projeto de ocupação. Para isso necessitam de apoio militar, mas interno. Porque se fosse externo teriam que mandar aqui um milhão de homens para morrer, o que as sociedades mais ricas não aceitariam. Seria um Vietnam dez vezes maior que destruiria o poder burguês em todo o mundo.

Mas aqui também tem um povo brioso. Não aceita e não aceitará a ocupação do capital financeiro. Não retornaremos à escravidão do colonialismo. As tentativas de nos intimidar não sortirão efeito, mesmo com a execução de próceres políticos, como não nos intimidou a ditadura. Não adianta uma mídia venal para nos iludir. O povo brasileiro está se conscientizando e tomará nosso país nas mãos. Não há força que poderá impedir-nos de fazê-lo.

Agora vem um aviso: chegou a hora da verdade. Vamos separar o joio do trigo. Para isso vamos definir o que é o trigo e o que é o joio. Nossa sociedade tornou-se uma sociedade hipócrita pela mentira, pela desumanidade e pela discriminação de toda ordem. Nós sabemos a origem de tudo isso. Não ficará pedra sobre pedra do edifício macabro do poder do dinheiro roubado ou falso e da chantagem de uma dívida pública fabricada para destruir nosso Estado e nossos direitos. As mentiras dos meios de comunicação que visam nos imbecilizar e iludir com mentiras, promessas e fantasias não sortirão efeito. Nossos inimigos não nos derrotarão. Construiremos uma nova sociedade de PAZ E FRATERNIDADE, em substituição a essa que aí está, da guerra e do egoísmo. A sociedade da morte será substituída pela sociedade da vida.

Os nossos valores serão os espirituais, do amor, do perdão, da liberdade, da fraternidade, da igualdade, da boa vontade e, sobretudo da VERDADE. Aqueles que formarão essa sociedade são o trigo que nos alimenta. Os que querem nos dominar, nos humilhar e nos espoliar o joio que nos envenena e que será afastado de nós. Eles não mais nos impedirão de evoluirmos e  conquistarmos nossa LIBERDADE.

Rio de Janeiro, 19/03/2018.

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