A cidadania ameaçada


A cidadania ameaçada

Arnaldo Mourthé

A intervenção federal na segurança pública do Rio de Janeiro ainda não saiu do papel do decreto presidencial. Isso porque eles não sabem o que nem como fazer. Isso prova que esse ato foi um arroubo de Temer ou seu objetivo não pode ser revelado. Aí mora o perigo.

De fato ocorreram as duas coisas. O arroubo é uma característica do personagem, na falta de argumentos, e o segredo encobre todas as ações do seu governo. Um segredo de polichinelo para quem presta atenção nos fatos e analisa a consistência das ações. Dessa questão vamos tratar mais adiante.

Uma questão espinhosa e dolorosa se coloca imediatamente. A discussão do êxito das ações, considerando que a operação tem como área de atuação as comunidades mais pobres do Rio de Janeiro. Nelas vivem as quadrilhas que são o alvo da operação. Alega-se da dificuldade de encontrar nas comunidades os criminosos, que podem se refugiar nas residências dos moradores, que para serem inspecionadas é necessário um mandado judicial específico, enquanto o bandido pode trocar seu refúgio, o que torna o mandado inócuo. Para resolver essa questão, meramente técnica, pretendem obter mandados amplos que autorizem a invasão de qualquer domicílio da comunidade. Isso é invasão de domicílio, ato ilegal. Se o conceder, o juiz terá ocorrido em delito de abuso de poder. A cogitação dessa hipótese é uma aberração. Mas ela está colocada e os “analistas” da televisão se ocupam dela.

O pior é que isso tem a ver com a natureza do poder que tenta impor-se a nós brasileiros. Um poder tirânico, sem apoio do cidadão, fonte única do poder republicano. A medida da intervenção é escalafobética. Não faz o menor sentido e não se sustenta, nem política nem juridicamente. É um ato de exceção, pura presunção de poder.

Entretanto, esse poder existe. Ele está aí tentando demolir a Nação brasileira. Sua soberania, sua cultura, sua economia e sua cidadania. Investe como um trator contra os direitos dos cidadãos que vivem do seu trabalho. Demole o aparelho de Estado que presta serviço à população mais pobre, na saúde e na educação, principalmente. Restringe os recursos para as universidades e persegue seus pesquisadores, que só buscam o conhecimento, visando um Brasil melhor. Denigre e submete à humilhação dirigentes e professores conduzidos coercitivamente para depoimentos, sem qualquer fundamento legal, apenas para intimidá-los quando realizam pesquisas sobre questões que incomodam o governo, ou seus tutores das corporações empresariais. Um reitor em Santa Catariana, que apenas exercia seu dever de ofício, foi levado à prisão, despido e humilhado, o que o levou ao suicídio. Caso semelhante aconteceu na Universidade Federal de Minas Gerais, em represália a uma pesquisa histórica sobre a ditadura militar.

Alguns acreditam que a motivação principal da intervenção seja a incapacidade do governo de aprovar a “reforma” da Previdência Social. É possível, mas é muito mais do que isso. Se não fosse, o Ministro da Fazenda não apresentaria uma série de medidas, visando “compensar a economia que se faria com sua aprovação”. Mentira! As medidas propostas agora não o foram antes porque provocariam uma grande reação. Agora querem nos enfiar pela goela abaixo a autonomia do Banco Central, isto é, entregar aos bancos a política financeira do Brasil. Eles já aplicam a política dos bancos, mas querem impedir que outro governo possa ter uma política de Estado. Eles pagam aos bancos dois bilhões de reais por dia, como juros da dívida pública, sendo metade em dinheiro, metade em títulos que aumentam a dívida, já impagável. Nós já somos um país ocupado. Não por tropas militares, depois de uma guerra, mas pelo capital financeiro que sangra o Estado e todos os brasileiros.

Riquezas produzidas por nosso trabalho são transferidas para fora do Brasil via exportação de lucros e juros para o capital estrangeiro. Para produzir essas divisas exportamos alimentos, deixando brasileiros com fome, minérios que nos deixam destruição ambiental – veja a tragédia do Rio Doce – e muitos outros produtos que fazem falta para nosso povo. Apesar da grandiosidade dessa sangria, eles ainda compram nosso patrimônio, indústrias, imóveis, terras, usinas hidrelétricas e até nossos meios de comunição, telefonia e televisão. Esta lhes serve para desinformar a população e para aculturá-la, criando as condições para nossa dominação.

O governo das trevas que ai está quer colonizar o Brasil até o fim deste ano, e está trabalhando duro para isso. Todas as suas ações, sem exceções, visam isso. Mesmo que haja alguma aparente benesse, que não é fácil encontrar, é parte desse esquema. Se existe é para enganar-nos.

Daqui para frente teremos que enfrentar a sanha dos demolidores da Nação. Mas eles não conseguirão. Nosso povo vai impedi-lo. Ele tomará consciência de tudo isso e se levantará. Aí sim, não sobrará pedra sobre pedra dessa sociedade perversa, que hoje está sendo comandada por uma corja de sociopatas a serviço de um pequeno grupo que domina o sistema financeiro mundial. Mas, nem esse vai salvar-se. O estrago e a desgraça que ele já produziu, ultrapassou o limite do aceitável. Quem viver verá!

Rio de Janeiro, 20/02/2018.

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